Formação Médica no Estrangeiro – Luxemburgo
Guilherme Ramos Meyers a apresentar a sessão Formação Médica no Luxemburgo, dia 5 de abril de 2025 no Future MD 7.0 | Créditos de imagem: Future MD
Se de manhã tínhamos já visitado o centro da Europa, nomeadamente a Suíça, agora voltávamos lá. Para nos falar da Formação Médica no Luxemburgo, o Future MD recebeu o Dr. Guilherme Ramos Meyers. A palestra foi sumária, tendo sido pouco explicativa, mesmo no momento de perguntas mais dirigidas.
A impressão com que ficamos é que a formação médica neste Grão-Ducado é ainda um projeto em desenvolvimento. O surgimento do curso é recente e o país é demasiado pequeno para assegurar a formação desejada. As únicas especialidades disponíveis são Medicina Geral e Familiar, com 20 vagas, e Neurologia e Oncologia, ambas com 5 vagas cada uma. As restantes especialidades são possíveis, mas desenrolam-se à base de acordos com universidades belgas, francesas e alemãs.
Para o Dr. Guilherme, as vantagens e desvantagens são as mesmas. Destaca a questão do multilinguismo do país, falando-se muito o francês e o alemão no mesmo dia. Adiciona ainda que os médicos portugueses têm vantagem, pois há uma comunidade portuguesa muito grande e há inclusive utentes mais idosos que só falam português. O elevado custo de vida pode ser visto como uma desvantagem, mas este vem associado a uma enorme qualidade de vida e um salário generoso, sendo o vencimento base no início de 4.000€ e aumenta todos os anos. Salienta ainda que o Luxemburgo é um país interessante para aqueles que pretendem fazer a especialização e investigação ao mesmo tempo.
Apesar da informação ter sido resumida, é suficiente para perceber os contornos da vida e especialização no Luxemburgo. A multiculturalidade é omnipresente e está mesmo no centro da Europa. A necessidade de falar várias línguas pode ser entusiasmante para alguns, mas um veto para outros. A fase inicial do desenvolvimento da formação e a pouca oferta de especialidades certamente desincentiva muitos. Como qualquer país, não é para todos, mas o Luxemburgo aparenta ter mais limitações do que os restantes países apresentados, mesmo com todas as grandes vantagens que possui.
Médicos a Bordo
Rui Pombal a apresentar a sessão Médicos a Bordo, dia 5 de abril de 2025 no Future MD 7.0 | Créditos de imagem: Future MD
Após a ida ao Luxemburgo, o congresso regressa ao aeroporto, mais precisamente para o Centro de Medicina Aeronáutica da UCS, presidido por Rui Pombal, médico e diretor deste centro. Rui Pombal começa a sua apresentação intitulada de Médicos a Bordo com uma introdução abrangente à medicina aeronáutica e espacial. A sessão destacou as múltiplas vertentes desta área, desde a certificação médica de pilotos até às respostas a emergências durante voos comerciais.
Pombal explicou que a medicina aeronáutica é uma prática clínica, ocupacional e certificatória, com impacto direto na segurança e desempenho dos profissionais da aviação. “É tanto niche como generalista”, afirma Pombal, mencionando alguns dos hot topics desta área, como a triagem médica para o turismo espacial, o impacto que as viagens espaciais de longa duração podem ter na saúde mental, ou mesmo como fazer suporte básico de vida na ausência de gravidade.
A apresentação detalhou ainda o dia a dia de um médico aeronáutico, que pode incluir exames médicos regulatórios, gestão de risco (muito importante para a segurança a bordo), e até consultas especializadas em avaliar se pessoas com doenças graves podem ou não viajar.
Esta área, uma competência da Ordem dos Médicos, é recomendada, na ótica do orador, para quem goste de variedade, inovação, e de alguma componente organizacional, bem como para alguém com interesse em consultas do viajante.
Para terminar, o médico deixa-nos uma curiosidade que tanto tem de interessante como de potencialmente assustadora: os estudantes de medicina fazem parte da lista das pessoas que podem administrar medicamentos a bordo, nomeadamente os presentes nos kits de emergência médica.
Formação Médica no Estrangeiro – Noruega
Carlos Daniel Santos a apresentar a sessão Formação Médica na Noruega, dia 5 de abril de 2025 no Future MD 7.0 | Créditos de imagem: Future MD
Continuando a viajar, fomos conhecer a FORMAÇÃO MÉDICA NA NORUEGA. O Dr. Carlos Daniel Santos, o orador, apesar de não ser o mais carismático, deu-nos uma ideia bastante completa e organizada da vida na Noruega e da estrutura da formação. O suporte visual era claríssimo e elucidativo. Começou por mostrar um vídeo sobre aquilo que é a Noruega atualmente, um país moderno e jovem, que vai para lá da sua herança Viking.
A formação específica divide-se em três módulos: LIS1, LIS2 e LIS3, sendo que algumas especialidades fazem apenas o LIS1 e LIS3, como a psiquiatria. O LIS1 corresponde à formação geral, contando com 12 meses de hospital e 6 meses de centro de saúde. Este módulo não é creditado se for feito fora do país. Ou seja, um médico que faça o ano comum em Portugal tem de repetir este módulo de formação específica na Noruega. Em relação ao LIS2 e LIS3, tem de ser feito, pelo menos parcialmente, num hospital central. Se se optar inicialmente por um hospital central, o médico fica alocado ao mesmo hospital na totalidade dos cinco anos. Se o hospital inicial for um hospital periférico, é aí que o médico permanece nos primeiros três anos e meio, transitando depois para um hospital central para completar o último ano e meio.
As especialidades podes ser consultadas em https://www.legeforeningen.no/fag/spesialiteter/ . As vagas variam consoante a necessidade do país e podem ser consultadas em https://www.legejobber.no e https://candidate.webcruiter.com . Há uma maior carência em Medicina Geral e Familiar, Psiquiatria e Medicina Interna. O processo de candidatura faz-se diretamente a uma vaga anunciada ou de forma espontânea, sendo mais difícil ser colocado desta forma.
Ao preparar a mudança, há requisitos a cumprir. Quanto à língua, é essencial ter o nível B2 de norueguês. É necessário obter o número de residente, que pode demorar 3 meses a chegar, e o reconhecimento da cédula profissional. É importante também procurar casa antes de deixar Portugal e ter uma boa almofada financeira até receber o primeiro salário, uma vez que o primeiro mês na Noruega pode ir até aos 6.000€ em despesas.
Na parte final da apresentação, o Dr. Carlos desconstruiu alguns dos mitos comuns sobre a Noruega. Relativamente à preocupação dos impostos altos no país, apresentou uma estimativa salarial para um interno da especialidade. Em Portugal os impostos seriam de 28%, enquanto na Noruega seriam de 47%. No entanto, o salário líquido no nosso país fica pelos 1.630€, enquanto na Noruega é de 4.800€. Falando dos preços da alimentação, confirmou que a carne e peixe são mais caros, cerca do dobro, mas outros alimentos como frutas e vegetais são mais baratos.
A exposição do Dr. Carlos foi concisa e tudo o que dizia era inequívoco. Tal como a Suécia, a Noruega encanta pelos salários muito superiores aos portugueses e a enorme valorização do bom equilíbrio entre vida laboral e pessoal. Mas as condições meteorológicas mais extremas e uma cultura menos expansiva que a dos povos do sul devem ser tomadas em consideração.
Cuidar Sem Fronteiras
Sofia Ribeiro a apresentar a sessão Cuidar Sem Fronteiras, dia 5 de abril de 2025 no Future MD 7.0 | Créditos de imagem: Future MD
A internacionalização foi, de facto, um tema recorrente nesta tarde de sábado, a qual encerrou da melhor forma com a palestra Cuidar Sem Fronteiras. A Medicina nem sempre passa pela clínica e um dos percursos mais diferentes é o das organizações internacionais. A Dra. Sofia Ribeiro conta já com uma longa carreira nestas instituições, sendo a pessoa indicada para nos introduzir ao tema. Fez a sua especialização em Saúde Pública, sendo esta a especialidade mais óbvia para quem pretende seguir este ramo, apesar da área integrar vários profissionais de diversas especialidades.
As entidades empregadoras para quem pretende enveredar por este setor da saúde são variadas, sendo as principais as Nações Unidas (Organização Mundial de Saúde), organizações intergovernamentais ou regionais, ONGs ou mesmo o setor privado. A Dra. Sofia levantou alguns pontos que devem ser considerados quando se pondera esta carreira. O salário é para todos um ponto importante e na OMS os salários rondam os 5.000€ e sem impostos. Há também um grande incentivo aos filhos nesta organização. Contudo, nas grandes organizações há uma abertura muito reduzida para outras atividades, como dar consultas privadas e estar envolvido em outros projetos. A região do globo, em conjunto com a possibilidade de progredir na carreira, deve também ser equacionada. Na Europa, o ambiente é muito competitivo e, por isso, a capacidade de progredir tende a ser maior fora, em especial na Ásia e Pacífico Sul.
Ao longo da palestra, a Dra. Sofia manteve uma postura quase maternal, genuinamente interessada em aconselhar os ouvintes da melhor forma. Transmitiu uma mensagem transversal a qualquer área da medicina de como, mais importante do que saber o que se quer, é identificar aquilo de que não gostamos e para o qual não temos jeito. Aconselhou a fazer vários estágios nas áreas de interesse a fim de ter um contacto mais realista. Falou ainda da importância do networking, que é elevada nesta área.
No final, a Dra. Sofia continuou com o tom orientador, num slide que intitulou, de forma cómica, “Conselhos finais que não pediram… mas que vou dar na mesma”. Encorajou-nos a mudar sempre, mesmo se com medo, algo que tem especial importância na área das organizações internacionais, mas que distingue de mudar sem um plano nem almofada financeira. Incentivou também a experimentar e ir avaliando.
Depois de uma palestra excelente, a Dra. Sofia terminou numa nota menos positiva. Partilhou que esta era uma carreira solitária, especialmente por ser mulher. Sofre muita discriminação e conta que, nesta área, a dedicação aos filhos é sempre questionada pelos outros, sendo mal visto deixar os filhos e o marido em casa quando se viaja nas várias missões a que o trabalho obriga.
A Dra. Sofia transmitiu uma enorme competência e grande vontade de passar aquilo que foi aprendendo aos jovens estudantes. O registo foi sempre de aconselhamento e partilha honesta do conhecimento que foi adquirindo. Foi certamente um dos pontos altos do congresso e um gosto ouvir as suas palavras no fecho do segundo dia de congresso e das sessões plenárias.
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