Se já te perguntaste onde poderás aprender mais sobre nutrição, a Conferência de Nutrição N2S, organizada pela Nova Medical School, pode ser uma boa solução para ti!
Este ano fomos brindados com mais uma edição, a 4ª edição, desta conferência. Esta prolongou-se desde quinta-feira, dia 7/11/2024, a domingo, dia 10/11/2024. Na quinta-feira, houve espaço para todo um conjunto de workshops, seguidos de três dias de variadas palestras. No meu caso, tive a oportunidade de participar em dois workshops e de presenciar as palestras de domingo.
Os workshops em que participei foram “Sistema de rotulagem alimentar FOP: descodifica a saúde” e “Cozinhar com gosto não cansa”. E porquê estes? Isto porque, de alguma forma, já conseguimos contribuir em algo para a literacia em saúde pela simples leitura correta dos rótulos, bem como ao aprendermos certos truques, rápidos e simples, na cozinha. Se comer já é uma ótima experiência, ainda mais o é poder ter a oportunidade de comer refeições saudáveis! Porque sim, no segundo workshop, tivemos a oportunidade de ir para o LIA (Laboratório de Investigação Alimentar) e cozinhar algumas receitas, desde frittata, crepioca, “esparguete” de courgette com molho de tomate, entre outras receitas, porque sim. Estás curioso em saber que mais workshops terias à tua disposição nesta edição? Pois bem, “se querias um workshop à tua medida”, poderias escolher “Antropometria: um workshop à tua medida”; se querias saber como controlar a tua fome emocional, poderias escolher “Quando o emocional fala mais alto: controla a fome que não se vê”; se tinhas curiosidade em saber que receitas fazem magia na oncologia, poderias escolher “SNOs na oncologia, receitas que fazem magia”; se te sentias intrigada/o em acerca do que habita o teu organismo, poderias ir pelo caminho do “Microbioma: conheces quem te habita?”; entre outros workshops.
Já domingo, foi iniciado com a presença da Frontal nesta Conferência N2S. Desde temas como “Updates on food based dietary guidelines”, a “Inteligência artificial na Nutrição”, passando por “Stress e o funcionamento intestinal: poderão estar relacionados?”, “Impacto das hormonas na obesidade” e “Transição para um padrão alimentar vegetariano”, não esquecendo os coffee-breaks que foram proporcionados, bem como o almoço, de forma a que energia não faltasse para continuar com o dia!
A primeira palestra, de seu tema “Food based dietary Guidelines”, dedicou-se precisamente às recomendações dos vários governos para a composição das dietas individuais, sendo que já 111 países aderiram a guidelines na alimentação. Foi-nos dada a conhecer a PROVEG, que também existe cá em Portugal, que é uma organização não governamental que pretende informar a população e incentivar à adoção de uma alimentação de base vegetal, com o objetivo de promover a saúde humana, reduzir o sofrimento animal e promover a sustentabilidade ambiental.
Esta palestra permitiu também perceber as mudanças que ocorrem entre as rodas alimentares dos vários países e as regras que diferem de umas para as outras.
Sabiam que a nível do Balanced Food Choice Index (BCFI), Portugal está no 25.º lugar? Caso não saibam, este índice foi desenvolvido para avaliar em que medida as diretrizes dietéticas de cada país incentivam escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis que podem, mas não necessariamente, incluir produtos de origem animal.
Será que o stress e o funcionamento intestinal estarão relacionados? Foi a pergunta à qual os palestrantes seguintes se comprometeram a responder, na chamada “mesa redonda”. Confesso, a um nível mais pessoal, de que gostei bastante desta palestra, e talvez tenha sido a minha preferida, pela forma como os oradores cativaram, muito pela forma mais impessoal/informal com que abordaram o seu público, o que para mim é bastante positivo e faz uma grande diferença. Acredito ainda que a linguagem simples que usaram também tenha ajudado bastante.
Na realidade, esta palestra foi tripartida em três: distúrbios do eixo intestino-cérebro e estado nutricional; abordagem nutricional no stress e nos sintomas gastrointestinais; e gestão psicológica da doença intestinal, o que acho que foi uma grande ideia, ou seja, inserir aqui uma componente psicológica, não fosse eu uma entusiasta pela psicologia e não fosse importante também integrar e perceber esta componente, tão importante para o doente.
Algo bastante interessante foi terem abordado o facto de o funcionamento intestinal afetar o funcionamento neurológico, e este funcionamento último afetar o intestinal, como uma espécie de circularidade. Se isto não é incrível, então não sei o que poderá ser…
Já não é novidade que o stress, em pouca quantidade, pode ser bom, mas que crónico e a longo prazo pode causar importantes consequências, neste caso, alterações intestinais. E sabem como é que esta interação ocorre? Através de um nervo, chamado nervo vago. Quando sentimos stress, este ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que liberta cortisol, que por sua vez aumenta a permeabilidade intestinal. Isto leva a uma maior mobilidade das bactérias que produzem substâncias que comunicam com o cérebro, e as citocinas produzidas têm também, a capacidade de afetar o nosso humor! Tudo isto acaba por culminar em disbiose que tem variadas consequências negativas.
Algo que nos foi chamado à atenção, foi para o facto de não desvalorizar o stress que os nossos doentes nos revelam, para validar sempre os seus sintomas, nunca esquecendo que nestes momentos, eles se tornam vulneráveis connosco. Por isso, que nunca nos esqueçamos da posição humana que devemos tomar!
Tal como em qualquer doença, a gestão emocional da doença intestinal não deverá ser algo deveras fácil, nem algo que já nos seja inerente à nascença. Um doente que passe por esta situação, está constantemente num estado dinâmico, flutuando entre a negação, revolta, estado depressivo, integração e choque, e muitas vezes, a experiência e conhecimentos acerca da própria doença, o carácter duradouro da mesma e a relação entre o doente e os profissionais de saúde é o que contribui para a resistência à mudança. E a forma como o próprio doente encara a doença é algo bastante individual, sendo que alguns têm a capacidade para gerir a doença, enquanto outros se deixam ser geridos por ela. Por isso, é que se torna premente haver todo um acompanhamento psicológico e de toda uma equipa multidisciplinar.
A sessão seguinte foi direcionada para o tema “Impacto das hormonas na obesidade”, já considerada uma doença, com muitas complicações. Uma doença que é influenciada, essencialmente, por três fatores, que se encontram numa balança que precisa de ser muito bem equilibrada pelos mesmos: ingestão de alimentos, metabolismo e atividade física. É possível tanto uma doença endócrina estar na origem da obesidade (e vemos exemplos disto no hipotiroidismo, síndrome do ovário poliquístico e síndrome de Cushing), como a obesidade estar na origem de uma disfunção hormonal. Já viram como todo o nosso corpo interage entre as suas diferentes partes e que o desequilíbrio numa delas nunca vem sozinho?
O quarto e seguinte momento foi reservado para um momento original de Q&A, acerca de um tema que cada vez mais vai tomando espaço no nosso dia a dia: “Transição de um padrão alimentar vegetariano”, no qual se tentou apelar à importância de reduzir o consumo de produtos de origem animal e, por outro lado, aumentar o consumo de produtos de origem vegetal. Foi utilizada a plataforma Mentimeter, que teve uma grande aderência, de 34 perguntas anónimas, que pelo tempo não foi possível responder a todas. Para os mais curiosos, as perguntas foram as seguintes:
➢ “O que pensa sobre o consumo de produtos processados vegetarianos, como os hambúrgueres vegetais? Até que ponto são saudáveis?”, que permitiu ficar com a importante ideia de que não devemos apenas considerar o critério do processamento em casos como estes, porque, primeiro, existem produtos processados interessantes a nível nutricional e porque, lá está, os nutrientes e o que os estudos nos vão dizendo também valem como importantes critérios na hora da escolha dos melhores produtos.
➢ “Nos casos em que a suplementação de vitamina B12 não é suficiente para contrariar o défice, retomar a ingestão de carne é a única solução?”, em que fazer uma toma intravenosa desta vitamina pareceu ser um bom caminho a tomar, sendo que também estas pessoas irão precisar do dobro da proteína, provindo, por exemplo, do leite e dos ovos.
➢ “As crianças são um grupo etário em que se tem de garantir bem as necessidades nutricionais para alcançar o desenvolvimento. Acha que é algo positivo e difícil começarem logo desde nascença este padrão?”. Isto foi algo que se percebeu que é possível, se for algo planeado, com vigilância, com o conhecimento e desejo dos pais e com o apoio do/a pediatra.
A última sessão teve como tema, algo muito falado nos dias de hoje: a inteligência artificial na nutrição, que antes fazia parte de um futuro longínquo, e hoje em dia é algo já bastante possível! Um dos grandes pontos positivos são, sem dúvida, a descoberta de caminhos para a prevenção de novas doenças e a capacidade de as prever. Já refletiram o quão fantástico isto é? E claro, não poderia ficar de fora o famoso e tão usado ChatGPT, que foi usado pelo próprio palestrante para fazer algumas questões acerca do tema e proporcionar um momento mais descontraído.
Por fim, posso dizer que fui “banhada” de aprendizagens, repletas de mensagens importantes. É sempre uma mais valia aprimorar o nosso conhecimento e a ida à conferência, posso dizer, foi uma mais-valia. Saímos sempre diferentes relativamente ao que éramos quando entrámos.
Ficaram curiosos? Esperamos por vocês na próxima edição?
Nota: as informações aqui transmitidas foram todas com base no que foi exposto e dito pelos palestrantes.
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