A sessão “Redução de Catástrofes”, promovida pela Associação de Estudantes da NOVA Medical School (AENMS), decorreu no dia 13 de outubro e contou com a presença dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), representados pela oradora Gabriela Duarte. Além da atualidade e relevância do tema, este encontro foi marcado pelo profundo interesse e participação dos alunos.
A conversa abriu com a apresentação da história e identidade desta organização humanitária. No contexto da guerra civil na Nigéria no final dos anos 60, um conjunto de médicos e jornalistas junta-se espontaneamente e desenvolve trabalho voluntário. Ao regressarem a França, decidem formalizar esta iniciativa e, assim, surge em 1971 a MSF, uma “organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a pessoas afetadas por crises humanitárias graves”. Passados 28 anos da sua fundação, a MSF é laureada com o Prémio Nobel da Paz e, até aos dias de hoje, mantém-se fiel aos seus princípios de atuação: salvar vidas e aliviar o sofrimento humano em contextos de vulnerabilidade dos cuidados de saúde.

Aliada à ajuda médica que prestam, está a outra componente desta organização: a sensibilização. A comunicação é, desta forma, parte do trabalho da MSF, para que o mundo não fique indiferente ou ignorante do sofrimento humano das pessoas a quem assistem. E, como tal, a sessão continuou com uma exposição informativa sobre o tema das Catástrofes Naturais. Atrelado a este assunto vem, claro, o tema das Alterações Climáticas e assim o destacou a oradora, explicando como situações de desastres naturais vão se tornando cada vez mais frequentes. As alterações climáticas levam a um aumento das necessidades de ajuda. Um exemplo disto mesmo foi o tenebroso ciclone Freddy, em 2023, que passou por Moçambique, onde levou a um surto de cólera, e Malawi, onde levou a uma extensa destruição de casas e não só. Ambos os locais contaram com a presença da MSF. Eventos como este estão, efetivamente, a tornar-se mais comuns. É um inequívoco exemplo disto o furacão Melissa ainda em destaque na Jamaica. Talvez se a sessão tivesse sido uma semana depois, teria sido este o exemplo ou o grande tema desta conversa.
Nestes contextos, a MSF procura conseguir dar uma resposta rápida. No terramoto do Haiti, o primeiro ferido foi tratado pelos profissionais humanitários 3 minutos após o início do mesmo. Para isso, Gabriela Duarte explicou que existe uma rede de profissionais que, não estando em missão, estão disponíveis. Existe também trabalho nas comunidades em risco de desastres naturais, através de formação local, kits médicos e sistemas logísticos capazes de serem ativados. Outro pilar importante para esta atuação rápida da ONG é o facto de 90% do financiamento da mesma vir do setor privado, desta forma, a atividade da MSF consegue ser independente de governos. A autonomia que este financiamento confere à MSF permite a rapidez na ação e a liberdade na decisão.

Ao longo da sessão, a representante da MSF mostrou-se disponível para responder a dúvidas dos alunos e conversar sobre as suas curiosidades. Uma participante questionou sobre a segurança dos profissionais humanitários no contexto de guerra. O facto de haver acordo com as duas partes do conflito armado, infelizmente, não impede que ainda aconteçam ataques, ou até mesmo mortes, entre os profissionais. Nesses casos, a MSF retira-se? A resposta da MSF a este assunto delicado e sensível é que a prioridade é a segurança dos seus profissionais, ainda que a organização tente que situações de vulnerabilidade e necessidade não sejam abandonadas. A oradora acrescenta que, lamentavelmente, são os profissionais locais os que são mais afetados. Na missão em Gaza, 15 colaboradores locais da MSF faleceram.
As perguntas seguiram-se, demonstrando o interesse dos alunos em conhecer aspetos mais pragmáticos da ONG. Expôs-se o trabalho contínuo fora das missões: as contínuas formações, a redação de relatórios sobre as missões e o planeamento de ações futuras. Os ouvintes perguntaram também sobre a remuneração dos profissionais da MSF, levando a uma partilha de opiniões acesa entre participantes, já que foi questionada a legitimidade desta pergunta neste contexto de ajuda humanitária. A discussão estendeu-se às condições das licenças para as missões da MSF, critérios para a escolha de profissionais e até sobre que especialidades seriam mais úteis para o trabalho da MSF. Notou-se espanto na audiência pelos requisitos linguísticos e de experiência de trabalho. Foram partilhadas vontades — talvez idealistas, mas legítimas dos jovens que somos — de partir em missão e levar ajuda humanitária pelo mundo fora, ao longo da vida.
O objetivo da chamada “Arte da Medicina” é sempre promover a saúde e aliviar o sofrimento. O contexto altera-se diametralmente e com este tanto mais, mas, em simultâneo, a essência dos cuidados médicos é a mesma quando se vai para um cenário de um arrebatador desastre natural.


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