SOMA – uma onda que luta contra a desigualdade de género através do surf e da educação.

Na quarta-feira, dia 5 de março, o Departamento de Ação Comunitária da AENMS promoveu uma palestra com a SOMA Surf. Neste encontro, duas voluntárias, Francisca Sequeira, a fundadora, e Ana Valente, apresentaram a identidade e o trabalho da associação SOMA – sigla para Surfistas Orgulhosas na Mulher d’África.

A ONG surgiu durante o tempo distópico de 2020, quando o mundo paralisado pela COVID-19 voltou a atenção de Francisca Sequeira para a saúde mental, nomeadamente para o surf e para a relação com o mar como ferramentas para o bem-estar e o crescimento individual. Assim, é de um contexto de adversidade como o da pandemia que nasce um projeto tão inspirador e transformador.

A SOMA descreve o seu objetivo como sendo o de desenvolver “a próxima geração de mulheres independentes e autossustentáveis, surfando ondas infinitas de bem-estar, oportunidades e equidade em toda a África”. Atuando em São Tomé e Príncipe, um país onde quase 70% da população vive em pobreza extrema, a organização enfrenta a desigualdade de género profundamente enraizada. É nessa realidade que desenvolve o seu trabalho, acompanhando crianças e adolescentes que vêem o seu horizonte severamente impactado pela dupla condição de pobreza e de mulher, extremo da vulnerabilidade na estrutura social.

Na palestra, houve a exibição do filme Surfing Through the Odds, um pequeno documentário premiado, que retrata o contexto cultural e doméstico de São Tomé e Príncipe, bem como o trabalho e projeto da SOMA. Dá voz a jovens que integraram programas desta associação, aos seus pais e expõem o impacto que o surf e a psicoeducação têm tido nestas comunidades. Efetivamente, é através de programas bem estruturados que ocorrem durante o ano letivo que a ONG apoia as jovens. Estas integram sessões de surf, psicoeducação, empoderamento de mulheres e suporte académico.

É interessante a vontade que esta organização mostra em perceber o seu impacto e em fundamentar o seu trabalho: as duas voluntárias apresentaram dois estudos com este objetivo. O primeiro é uma análise da realidade das jovens das comunidades de São Tomé onde a SOMA está presente, desde questões domésticas como se partilham a cama com alguém ou se elas concordam que as mulheres devem fazer todas as tarefas domésticas sem ajuda nenhuma dos homens (80%); até a questões académicas como a percentagem de alunas que já reprovaram de ano (53%). O segundo estudo é um estudo de impacto que avalia, antes e após o programa da SOMA, a resposta das beneficiárias a várias perguntas entre as quais: se são capazes de identificar pelo menos uma emoção, se têm medo do oceano, se concordam novamente com a questão da responsabilidade total e exclusiva das mulheres nas tarefas domésticas, etc. Os resultados são entusiasmantes e revelam o potencial destes programas desenvolvidos nos últimos quatro anos.

A sessão encerrou com perguntas e discussão sobre as dificuldades que o projeto encara, nomeadamente as dificuldades culturais e a resistência, por vezes, encontrada nas famílias das meninas que querem começar os programas. No seguimento deste encontro e em parceria com o MedSurf, a AENMS organizou também uma campanha de doações chamada “Caixa Cor de Rosa”, a fim de apoiar este projeto com diversos materiais (material escolar, produtos de higiene íntima, fatos de banho, etc).


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