MEO Kalorama 2024 (30 de Agosto)

No seu 2º dia, com uma lineup mais virada para o disco e a eletrónica, o MEO Kalorama pareceu determinado em transformar o Parque da Bela Vista numa pista de dança. No palco MEO, os LCD Soundsystem brilharam, enquanto que os Jungle fizeram o seu melhor para adormecer uma audiência que só queria dançar.

Fieis à sua fórmula bem ensaiada que mistura elementos de funk e nu-disco, os Jungle tiveram dificuldade em cativar um público que vinha fresco e pronto para uma noite a mexer a cintura. O trio londrino, transformado em sexteto ao vivo, privilegiou o seu último álbum “Volcano”, lançado no ano passado, com sucessos de tabelas como o “Back On 74” e “I’ve Been In Love”, mas não esqueceram os êxitos para os fãs mais assíduos: abriram com um dos seus primeiros êxitos, “Busy Earnin’” e passearam pela sua discografia com outros favoritos como “Casio” e “All Of The Time”. O mais impressionante foi que, com um estilo tão acessível e “dançável”, os Jungle tenham conseguido dar uma atuação tão entediante. As músicas escorriam umas para as outras de forma impercetível (não no bom sentido) e os artistas pareciam dar poucos sinais de vida enquanto se apressavam pela sua setlist repetitiva e vazia de qualquer tipo de alma, o que se manifestou num ambiente estagnado em que as pessoas rapidamente desviaram a sua atenção para as pessoas ao seu lado.

Felizmente, os LCD Soundsystem tomaram o palco umas horas depois para salvar a noite. O grupo nova-iorquino chefiado por James Murphy, como o próprio disse orgulhosamente a meio do concerto, já tocam em Lisboa há 20 anos. Ontem foi o maior palco que tocaram na cidade, e talvez a atuação mais memorável que já nos trouxeram. A entrada do grupo, composto por sete membros dedicados a recriar (e por vezes transformar) as composições de Murphy num ambiente fora do estúdio, foi dada ao som de “Real Good Time Together”, de Lou Reed, o que deixou assente o tom de ironia e leveza que se fizeram sentir ao longo do concerto. A partir do momento em que os sinos de Us V Them começaram a tocar e o público repetia a letra “The time has come, the time has come today”, todos sabiam que a energia extasiada que saía do palco e se espalhava pela audiência só ia terminar com as últimas notas do concerto. Passaram um pouco por toda a sua discografia, com êxitos como o catártico “Someone Great”, o primeiro single e sempre hilariante “Losing my Edge”, o emocionante “New York I Love You But You’re Bringing Me Down”, terminando com o piano de “All My Friends”. O momento mais especial da noite terá sido certamente “Dance Yrself Clean”, que se desenrolou lentamente em camadas de sintetizadores apoiadas por um coro, para depois explodir num êxtase relampejante que ofereceu ao público um momento de catarse para, lá está, nos “lavarmos através da dança”. 

No palco Lisboa, os Nation Of Language surpreenderam pela positiva. Com um som que relembra o synth pop de grupos como os Depeche Mode ou os New Order, trouxeram uma energia e leveza refrescantes ao público que procurava um aperitivo antes da atuação dos LCD Soundsystem. Para além disso, Ian Richard Devaney, o vocalista, mostrou que tem tanto o carisma como a excentricidade para palcos (e músicas) maiores.

João Carvalho


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