iMed Summit 2023: palestras e workshops

Por Pedro Pargana Ribeiro, Inês Brandão, João Carvalho e Leonor Carvalho

Palestras

Em mais uma edição de sucesso do iMED Summit, a equipa da iMED Conference deixou todos os participantes empolgados para o evento principal em Outubro, a decorrer entre os dias 18 e 22. Foi uma tarde cheia de palestras, workshops, surpresas e coffee breaks (que superaram, mais uma vez, as expectativas). Tudo isto preparou-nos já para o tema do próximo ano, Unravel the Future. A iMED Conference 15.0 vai inovar o que já foi feito em anos anteriores, trazendo algumas novidades e o toque especial da equipa deste ano. 

Podemos esperar que as palestras deste ano nos abram os horizontes em 3 grandes temas: Medicina de Conflito e Catástrofe, Neurologia e Medicina Materno-Fetal. O lado humanitário da profissão médica também não será esquecido e, por isso, vamos poder contar com as Humanitarian Lectures. Por fim, para não esquecer o contacto entre a Medicina e mundo para além desta, não podemos deixar de referir as iMED Sessions. 

Como sempre, o iMED não vai ser só teoria, trazendo muitas oportunidades aos participantes para pôr as mãos na massa. Os workshops estão de volta, quer alguns dos mais populares, como outros novos por anunciar. Mas não são só os workshops que compõem a componente prática! Há também as várias competições que o iMED organiza para os seus participantes e, por isso, podemos contar com o regresso do Clinical Mind Competition, do iPitch Competition e do iNNOVATE. 

Para abrir a tarde de palestras, ficámos a saber mais sobre os Médicos do Mundo, a conhecida rede internacional que dá apoio à saúde das populações, tanto a nível de intervenção comunitária, como de emergência humanitária, em 70 países, com 17 delegações. Assim, esta organização fornece cuidados de saúde às populações em realidades muito díspares, sob condições variadas, mas sempre seguindo a mentalidade do investimento eficaz. 

A missão e o trabalho da Médicos do Mundo dá oportunidades a médicos (e futuros médicos, alguns dos quais podem ter estado no iMED Summit) para contribuir com o seu esforço e conhecimento para o apoio a populações assoladas por catástrofes. O exemplo disto foram as missões após o ciclone Idai, que assolou a região da Beira, em Moçambique. A associação tem uma presença forte em países de língua portuguesa, nomeadamente em Moçambique, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde. 

No entanto, envolvermo-nos com a Médicos no Mundo não é apenas ir em missões – muito do trabalho envolve intervenção em problemas mais arrastados das várias comunidades. Cá em Portugal, prestam cuidados primários em várias zonas, dão apoio a pessoas com consumos, por exemplo, sob a forma de consumo vigiado de substâncias, e fazem, ainda, triagem de cidadãos com estado de permanência em Portugal incerto, que chegam aos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro. Além disso, a associação está, cada vez mais, a tentar sair dos grandes centros e reforçar a sua presença em regiões mais isoladas. 

E agora… como é que nos podemos envolver com a associação Médicos do Mundo? Para estudantes universitários, infelizmente, a contribuição que podemos dar em trabalho de campo é limitada. Podemos ter uma participação observacional no terreno, mas para uma participação mais ativa só poderá chegar mesmo no final do curso. Mesmo assim, os alunos são bem vindos para o planeamento e desenho dos vários projetos, como alguns, aliás, já o fazem. 

Para surpresa de quem estava na sua pausa, no final do coffee break, começaram a ouvir-se uns gritos vindos do auditório. Mal se entrava no auditório, víamos no palco a “vítima”, com uma dupla de bombeiros já no local, prontos para iniciar o cuidado pré-hospitalar. Esta pequena demonstração foi mais eficaz que qualquer argumento possível a defender a importância da simulação na aprendizagem, tanto para quem está a participar como para quem está a ver. 

Os socorristas fizeram a abordagem estruturada à vítima, com rapidez e intensidade, mas sem esquecer nenhum passo para garantir os melhores cuidados. A audiência pode assistir, em tempo real, à aplicação do ABCDE, dos vários dispositivos utilizados em pré-hospitalar (nomeadamente a colocação de um tubo de Gedel), da tríade mortal do trauma, etc… 

Depois de acabar a simulação, houve algum tempo de discussão com a audiência, com algumas questões em relação à atuação dos socorristas nesta situação, o que se poderia ter feito diferente e dúvidas sobre situações emergentes como a demonstrada. 

Após a demonstração de uma abordagem à vítima em tempo real, os participantes do iMED Summit puderam ter uma visão mais geral do que é a vida a trabalhar na emergência pré-hospitalar, com a contribuição extraordináriado Dr. André Alexandre, na sua palestra 911 – How to: VMER, que teve um equilíbrio perfeito entre exposição formativa e um testemunho de um médico que já viu e passou por muito.

O papel de um médico na VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) consegue ser variado e complementa o papel dos profissionais de saúde nos Serviços de Urgência dos hospitais. Um médico pode estar encarreguede triar o doente no local, direcionar o doente para o hospital certo (para evitar que um doente emergente ande a ser direcionado para um segundo hospital), orquestrar a atuação da equipa de intervenção no terreno e colocar alguns dispositivos no local. 

E como nos podemos tornar médicos na VMER? Uma dica importante dada pelo Dr. André é escolher fazer formação especializada num hospital com VMER, já que é preciso sermos propostos pelo hospital para esta posição. No entanto, não é impossível mesmo para quem não se forme num desses hospitais, como é o caso do próprio. A formação envolve fazer módulos teóricos e estágios no terreno, cuja aprovação se obtém por objetivos. 

Numa nota mais pessoal, o Dr. André Alexandre partilhou como os desafios enfrentados conseguem ser muitos, desde a intensidade das situações que se vêem no dia-a-dia à escassez de recursos. Por fim, partilhou algumas das suas histórias, nomeadamente já ter feito o parto a duas crianças, dois momentos que muito o marcaram ao longo destes anos. 

Para finalizar este dia de iMED Summit, os participantes tiveram a oportunidade de garantir a sua presença no iMED Conference 15.0 ao provar as suas competências de medicina diagnóstica e raciocínio clínico, abordando um caso real no Clinical Mind Competition Warm Up. Este momento serviu como preparação dos participantes para o Clinical Mind Competition, cujos moldes vão ser ligeiramente diferentes nesta próxima edição. Para tentar ser o mais abrangente possível, vai envolver 2 casos iniciais, um de Cirurgia Geral e um de Medicina Interna. Em seguida, a competição vai terminar com um caso ligeiramente mais longo de uma especialidade surpresa. O par vencedor vai ter a oportunidade de ganhar um estágio de duas semanas com o Instituto Marquês de Valle Flôr, em São Tomé e Príncipe.

Quanto ao Warm Up desta competição, não deixou de puxar bem pelos neurónios de todos os participantes, numcaso com sintomas improváveis, que pediu atenção ao detalhe e testou quem esteve atento às aulas sobre doenças infecciosas. Certamente, todos os participantes ficaram ansiosos de se juntar à edição desta competição durante o main event.

Pedro Pargana Ribeiro

Workshops

Approach to: Panic Attack

O workshop “Approach to: Panic Attack” dirigido pela enfermeira e psicóloga Ana Sartóris, em nome da Femédica, que, com o seu entusiasmo e amor à profissão, forneceu aos seus participantes as ferramentas necessárias para saber lidar com esta situação desconcertante.

“Por vezes, o pior sítio onde podemos estar é dentro da nossa cabeça”. Esta frase, com a qual a Dra. Ana Sartóris introduziu a palestra, é uma verdade para muitas das pessoas que vivem com ansiedade diariamente. Para conseguirmos ser uma melhor ajuda para nós próprios e para os outros à nossa volta, este workshop guiou-nos por 3 pontos principais: distinguir a ansiedade de ataque de pânico, identificar os sinais e sintomas e finalmente o que fazer e tratamento.

Inicialmente, foi importante perceber o que é um ataque de pânico. A ansiedade é um processo fisiológico, essencial para a nossa sobrevivência e vida diária. Pelo contrário, um ataque de pânico é um episódio de ansiedade intensa, acompanhada de medo, sensações corporais desconfortáveis e urgência em escapar ao perigo, que atinge o seu pico em menos de 10 minutos. Pode ser acompanhado por uma grande variedade de sintomas emocionais, cardiovasculares, neurológicos, respiratórios e digestivos, muitos dos quais não associamos, habitualmente, à ansiedade, como náuseas, sensação de formigueiro, frio, etc… 

Quando ocorre um ataque de pânico, qualquer pessoa pode cair no Ciclo do Pânico: isto é, um ciclo vicioso, em que, após um primeiro ataque de pânico, a pessoa teme o aparecimento de outro, o que aumenta os seus níveis de ansiedade e abre caminho para um ataque. Combater este ciclo é um dos principais alvos quando tentamos gerir a ansiedade após um ataque de pânico. 

Mas então… o que devemos fazer se estivermos perante alguém com um ataque de pânico? Antes de mais, avaliamos se há risco de danos. Ao garantir a segurança, pedimos autorização à pessoa para chegar perto dela, ou tentamos ajudar de uma certa distância. O importante é garantir o maior conforto. Ouvimos o que a pessoa nos quiser transmitir, sem julgar, e oferecemos segurança, explicando que por muito assustadores que os sintomas sejam, eles vão desaparecer. Devemos falar com frases curtas e simples, não falar de mais, não gesticular de mais, não invadir o espaço da pessoa nem assumir uma postura de confronto. Devemos estar prontos para ajudar, sem pressupor necessidades. 

A seu tempo, devemos incentivar alguém que tenha um ataque de pânico a procurar ajuda profissional. Dependendo da situação individual da pessoa, pode fazer-se o uso de medicação, como antidepressivos ou benzodiazepinas, e também recorrer a psicoterapia, principalmente terapia cognitivo-comportamental. Esta pode incluir a aprenizagemr e aplicação no dia-a-dia de técnicas de relaxamento, diminuição da ansiedade antecipatória e alteração de algumas distorções de pensamento. A psicoterapia é especialmente importante nestes casos, já que diminui a necessidade de medicação e potencia o seu efeito. 

A palestra deixou a sua marca nos ouvintes por, de uma forma objetiva e prática, diminuir o preconceito associado à saúde mental e proporcionar uma visão introspectiva com a oportunidade de nos identificarmos. Neste workshop, ganhámos todos uma nova perspetiva sobre como nos ajudar a nós próprios e às pessoas à nossa volta que possam precisar de nós.

Inês Brandão e Pedro Pargana Ribeiro

Approach to: Suicide Attempt 

Tornou-se óbvio desde o início que o workshop tinha a intenção estabelecida de chocar e, acima de tudo, alertar os seus participantes. 

A psicóloga Dra. Teresa Silva, responsável pelo workshop, começou por pedir a um membro da audiência para contar 45 segundos, durante os quais se iria apresentar. 45 segundos passados, o alarme toca: “enquanto me ouviam falar morreu uma pessoa por suicídio”. Feitas as contas, são 700 mil pessoas que se suicidam todos os anos, mas números destes só nos afetam se os virmos à nossa frente.

Passou-se à visualização de vários vídeos a apelar aos sinais mais e menos subtis de uma pessoa em risco, desde comentários autoinjuriosos a um aparente desinteresse geral com a vida, e que muitas vezes passam despercebidos. A Dra. Teresa Silva complementava esta informação com uma apresentação mais teórica de características de risco que nos permitia construir um perfil de uma pessoa em risco. O perfil português mais comum corresponde a um homem de meia-idade, divorciado, sem religião, com hábitos alcoólicos e/ou uma doença psiquiátrica. 

Uma grande parte da abordagem da técnica durante o workshop passou por perguntar sempre à audiência, após a visualização de um vídeo: “o que viram?”, o que elicitava sempre uma grande variedade de respostas para os mesmos trinta segundos de imagem. A intenção foi claramente alertar-nos para a enorme subjetividade inerente ao problema da saúde mental e risco de suicídio, o que torna a sua identificação muito difícil para um olhar desatento (e desinformado).

Dessa forma, devemos estar conscientes uns dos outros, olhando com atenção para o que não se diz mas que sempre se vê. E, acima de tudo, não ter medo de perguntar. Pode fazer toda a diferença.

João Carvalho

Approach to: Massive Bleeding 

O workshop Massive Bleeding foi dinamizado pela Femédica, uma organização responsável pela realização de inúmeras formações de assistência médica, desde os primeiros socorros à emergência médica profissional, em diversos espaços e eventos.

Decorreu no relvado da reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, tendo contado com uma introdução teórica, uma pequena simulação prática e um período para esclarecimento de dúvidas. Num primeiro momento, o formador, o enfermeiro Luís Figueiredo, expôs os conceitos mais relevantes na abordagem da vítima de hemorragia massiva, nomeadamente, a correspondência entre o volume hemático perdido e os graus de choque hemorrágico, a fisiopatologia das compensações do organismo e o conceito de golden hour vs. golden minutes, relembrando que a exsanguinação pode dar-se de forma extraordinariamente rápida. Assim, a adoção de medidas de controlo hemorrágico por parte de qualquer pessoa, mesmo não se tratando de um profissional de saúde, pode fazer a diferença entre a vida e a morte. 

Enquanto explicava, utilizou um garrafão de 6 litros de água como forma de recriar o volume total de sangue do corpo humano, indo interpelando os formandos como forma de participarem ativamente na veiculação de informação. De seguida, enumerou os pontos fundamentais da abordagem a uma vítima com uma hemorragia ativa, esclarecendo como deve ser realizado um torniquete, a compressão sobre a ferida e o preenchimento da ferida com compressas, ou as alternativas caso esse material não se encontre disponível. Além disso, fez-se acompanhar de uma mala com diversos artigos próprios das equipas de emergência médica, de entre os quais os torniquetes, as ligaduras hemostáticas e os cobertores térmicos, tendo dado a oportunidade de os participantes contactarem com esses exemplares reais. Por fim, além de dar espaço para a colocação de questões, convidou dois pares de participantes a tentar estancar a hemorragia na ferida incisa de um modelo de membro inferior.

De um modo geral, os participantes demonstraram-se muito satisfeitos com o workshop, interagindo com o formador, colocando questões e indagando sobre as ações de formação da organização. Por seu lado, o enfermeiro Luís Figueiredo revelou-se um orador cativante que soube eleger o essencial a reter para rapidamente agir naquele que é um cenário com que qualquer um se pode ver confrontado no seu dia a dia: uma hemorragia massiva, a Massive Bleeding.

Leonor Carvalho


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