Durante os dias 24 e 25 de outubro de 2024 a NOVA School of Business and Economics (NOVA SBE) foi o palco de um dos principais eventos focados no debate de temas da atualidade sob múltiplas perspetivas, as Conferências do Estoril de 2024, organizadas pela NOVA SBE e NOVA Medical School, em parceria com o Digital Data Design Institute de Harvard.
O evento contou com mais de quatro mil participantes e 80 oradores nacionais e internacionais que se juntaram para refletir sobre sustentabilidade, alterações climáticas, promoção da paz, saúde, igualdade de género, economia e o futuro da tecnologia, em torno do tema “Time To Rethink“.
Neste quarto (e último) artigo poderá encontrar a cobertura da FRONTAL de múltiplas palestras que ocorreram na segunda metade do segundo dia do evento.
How to live and work with AI | Como viver e trabalhar com IA
Cobertura por Carolina Graça
Ethan Mollick, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
À medida que a inteligência artificial (AI) evolui rapidamente, torna-se claro que integrá-la nas nossas vidas pessoais e profissionais é inevitável e vantajoso. A inteligência artificial oferece um grande potencial como ferramenta de apoio, especialmente em tarefas criativas que se pensavam ser exclusivamente humanas.
Um dos aspetos mais promissores e controversos da inteligência artificial está no seu papel na criatividade e inovação, quer seja na criação de ideias, composição de música e criação de imagens. Ao assumir tarefas repetitivas ou que demoram muito tempo, a AI permite que as pessoas se concentrem em aspetos mais conceituais e de alto nível no seu trabalho. A AI não existe para substituir a criatividade humana, mas para ampliá-la, possibilitando que as pessoas explorem novas ideias e ultrapassem fronteiras que antes pareciam inalcançáveis.
O medo de que a inteligência artificial substitua muitos empregos, gera preocupação em diversos setores. No entanto, especialistas argumentam que mais do que uma inimiga a inteligência artificial pode vir a ser uma grande aliada no trabalho. A AI pode ajudar na organização do trabalho, gerir dados e fornecer informações que, de outra forma, exigiriam tempo e esforço consideráveis. Para muitos profissionais, esta ferramenta garante mais tempo para um maior foco no pensamento estratégico, na construção de relacionamentos e na tomada de decisões, habilidades que permanecem exclusivamente humanas, facilitando as tarefas e aumentando a produtividade. Apesar destes benefícios, muitos profissionais hesitam em admitir a utilização de AI no trabalho, temendo serem mal vistos ou até mesmo substituídos.
Assim, ao contrário do que muitos pensam, a AI não nos pode substituir enquanto humanos. Empatia, ética e criatividade são habilidades interpessoais e continuam a ser qualidades que a tecnologia ainda não é capaz de replicar. Em vez disso, a AI deve ser vista como uma ferramenta poderosa que, quando utilizada estrategicamente, potencializa as nossas capacidades e cria novas possibilidades. A chave para o futuro não é resistir à inteligência artificial, mas aprender a viver e trabalhar com ela, integrando-a de forma a enriquecer as nossas vidas e carreiras.
Can art open the dialogue about mental health | Pode a arte abrir o diálogo sobre saúde mental
Cobertura por Carolina Graça

Jacqueline de Montaigne, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
A arte dialoga connosco e permite-nos abordar temáticas que por vezes nos são impossíveis de verbalizar. Jacqueline de Montaigne habituou-se desde cedo a contar histórias através de desenhos, criando pequenas mensagens na sua arte. Jaqueline destacou-se pelo seu papel na defesa dos direitos das mulheres e das crianças e sobretudo por ter ficado no top 100 melhores artistas devido ao seu trabalho “The language of Flowers” exposto em Lisboa.
Desta vez foi desafiada a falar sobre a saúde mental com quem sempre contactou desde pequena, quando foi diagnosticada aos 10 anos com depressão e ansiedade. Descreve estes tempos como se estivesse “acorrentada a uma cadeira invisível” que só ela consegue ver e que lhe dificulta a realização de tarefas.
Desde a pandemia que percebeu que a arte é um refúgio no qual se consegue expressar. Nos movimentos de pintura consegue acalmar a mente, como sugere que acontece quando pinta as asas de um pássaro, um elemento muito presente na sua arte.
Por fim, realça que não nos devemos esquecer da saúde mental, uma vez que Portugal é um dos países com maior taxa de depressão. Priorizar o sono, receber luz solar, largar o telemóvel e preocuparmo-nos com o próximo, são tudo elementos que devemos ter presentes se queremos evitar esta cadeira invisível que tanto imobiliza Portugal.
Com as suas tímidas palavras Jacqueline de Montaingne conta-nos a sua história de vida e convida-nos a refletir sobre o poder de usar a arte como quadro para a depressão, assim como diversos hábitos que podemos adotar na nossa rotina diária, desde valorizar-nos a nós próprios e ao próximo.
What can be done to end coercion in mental healthcare | O que pode ser feito para acabar com a coerção nos cuidados de saúde mental
Cobertura por Carolina Graça

Deborah Aluh, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
A saúde mental é uma componente fundamental para o bem-estar geral e desempenha um papel crucial na qualidade de vida dos indivíduos. Apesar de ser uma temática de bastante relevância, é ainda uma área bastante negligenciada no ramo da Medicina.
Debora Aluh convida-nos a refletir sobre o sistema de saúde mental, que não só apresenta uma grande presença de coerção nas suas práticas, como também não é facilmente acessível. Em muitos países, os modelos atuais ainda são muito dependentes de medidas involuntárias, o que revela um sistema com falta de recursos e opções flexíveis. Reformar estruturalmente os serviços de saúde mental para incluir abordagens mais inclusivas e humanas é essencial para que os pacientes possam ser submetidos a métodos coercivos.
Pacientes com problemas de saúde mental enfrentam, frequentemente, problemas sociais, educacionais e financeiros. Muitos vivem em condições de pobreza, o que as prende a um ciclo de instabilidade que agrava as suas dificuldades. Estes fatores dificultam o acesso a tratamentos adequados, que muitas vezes também são caros.
O estigma em relação às pessoas com doenças mentais é outro fator que dificulta o acesso aos cuidados, visto que muitas vezes a saúde mental é desvalorizada e posta em segundo plano.
Existem diversas medidas que contribuem para acabar com a coerção nos cuidados de saúde mental entre as quais: a reforma dos sistemas, com a priorização e adoção de práticas mais compassivas e centradas nos pacientes, a capacitação de profissionais de saúde mental para haver uma abordagem mais empática e humana; a revisão de leis de saúde mental para proteger os direitos do paciente e o registo em caso de ocorrência de coerção na abordagem ao paciente.
Em jeito de conclusão, a coerção ainda está muito presente nos cuidados de saúde mental, devido ao estigma imposto pela sociedade e diversos fatores socioeconómicos.
Ao implementarmos estratégias adotamos um modelo de saúde mental que minimiza a coerção e prioriza o cuidado humano e inclusivo. Procura-se, desta forma, erradicar o estigma imposto pela sociedade e priorizar a humanitude, empatia e compaixão.
How improving care can help decarbonise healthcare systems | Como melhorar cuidados pode ajudar na descarbonização dos sistemas de saúde
Cobertura por Carolina Graça

Andreas Heddini, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
A crise climática é a maior crise que o sistema de saúde vai assistir no futuro. Estudos indicam que cerca de 2 mil crianças morrem todos os dias devido à poluição do ar e às temperaturas extremas. A crise climática não fica apenas por aqui, registando-se muitos incidentes de cheias e incêndios na Europa, ao longo dos últimos anos.
Ao pensarmos no que poderá provocar o agravamento das alterações climáticas, evidenciamos o grande papel da indústria da agricultura. No entanto, a saúde é responsável por 5% das emissões de carbono como por exemplo, com a utilização de anestésicos e broncodilatadores de via inalatória. O sistema de saúde tem uma pegada de emissão de carbono que vai aumentando com a intensidade do tratamento hospitalar. O tratamento de asma, DPOC e insuficiência cardíaca são os que provocam um maior aumento de CO2 libertado.
Para diminuir as emissões de CO2 provocadas pelo sistema de saúde, Andreas Heddini sugere um diagnóstico mais precoce do paciente, um melhor seguimento das guidelines, um tratamento mais personalizado de paciente para paciente e ainda a tomada de políticas mais sustentáveis para os sistemas de saúde e o ambiente. Algumas políticas sugeridas passam por descarbonizar as instalações após a utilização de tratamentos de carácter poluente, uma melhor prevenção das doenças e ainda uma adoção de diferentes métodos para prestar cuidados de saúde de forma remota (por exemplo através de chamadas, numa primeira fase).
Em suma, as alterações climáticas serão um dos grandes problemas que o sistema de saúde terá de enfrentar. Terão de se identificar as melhores políticas para reduzir este nível elevado de emissões. A associação entre público e privado pode desempenhar um papel importante nesta descarbonização.
How to find your place in the world | Como encontrar o seu lugar no mundo
Cobertura por Pedro Ribeiro

Dino D’Santiago, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
Num dos momentos mais íntimos da conferência, Dino D’Santiago falou na sua língua do coração. Veio falar-nos sobre a Mundu Nôbu. Segundo o próprio, falar-nos sobre uma casa onde os sonhos não morrem. Esta é uma das suas formas de retribuir ao mundo as coisas que lhe deu, para que cada pessoa deixe a sua impressão digital no mundo, de acordo com o que quiser para a sua vida, conseguindo transformar a sua dor em força e em amor.
A Mundu Nôbu não é apenas mais uma associação, é feita de histórias reais, que se desenrolam mesmo ao nosso lado. Por exemplo, no momento em que falava, estávamos no Estoril a reunir pessoas com influência que vão definir o futuro do mundo, mesmo ao lado de onde um dos jovens da Mundu Nôbu passou um dos piores momentos da sua vida, a dormir debaixo de uma árvore. Esta associação é sobre ter uma rede, ligar as pessoas neste mundo bem mais pequeno do que pensamos.
Para clarificar, Dino relembrou que esta não é uma casa de caridade. Não se vê os jovens como potenciais problemas, mas sim como potenciais ativos para a sociedade. E explorar este potencial não se trata de uniformizar: a cultura e a sociedade não devem seguir um só caminho. Precisamos de diversidade, mas também de inclusão. Isto é algo que temso conseguido em Portugal melhor que noutros sítios e não podemos que ninguém, nem de fora nem de dentro, nos façam mudar e deixar de ser assim solidários com o outro. Naturalmente, não podemos olhar para a história de um único prisma. Independentemente destes pontos positivos, não soubemos ainda admitir os erros do nosso passado, muito menos redimi-los.
Na construção desta nossa sociedade, não cabeça apenas aos que tomam as decisões ter impacto. Precisamos de olhar para quem vem de fora, movido pela esperança de uma vida melhor, como alguém que nos ajuda a construir este projeto comum. Nem todo o tuga é luso, somos todos família, mesmo quem não veio do mesmo ventre. A cor é só uma, os tons é que vão mudando.
Ao contrário do que se diz, o mundo está sempre melhor. É fácil vender o medo para quem quer controlar o descontrolo que ele gera, mas não temos de ceder a ele. O melhor negócio para o futuro é vender o medo para comprar coragem. Temos de combater a distância entre as pessoas. Perdemos cada vez mais a capacidade de sequer olhar nos olhos das pessoas com quem falamos, de conectar através de gestos que dispensam palavras.
Precisamos todos de parar e sentir.
How to balance ambition with chronic pain | Como equilibrar ambição com dor crónica
Cobertura por Sara Sousa

Miguel Viana Batista, Leonardo Lotto e Lorraine Ansell, dia 25 de outubro de 2024 nas Conferências do Estoril | Créditos de imagem: Boa Onda Produções
Lorraine Ansell sofre de uma síndrome denominada de Ehlers-Danlos que se caracteriza por uma hiperelasticidade dos tecidos, causando-lhe uma dor contínua, da qual só obteve diagnóstico há cerca de dois anos e desde então tem caminhado para a aceitação desta dor perpétua que carrega consigo através da escrita.
Leonardo, por sua vez, não viveu toda a sua vida em dor, mas a sua percepção do mundo mudou ao sofrer um acidente que o impede de ter controlo sobre o seu corpo devido a uma lesão na coluna. Neste debate moderado por Miguel Viana Batista, os oradores contam-nos como encontram o equilíbrio entre a ambição e uma dor crónica. É nítido o desejo de lutar por uma vida melhor e, tanto Lorraine como Leonardo, não deixam de sonhar e sonhar cada vez mais alto pelos seus objetivos, mesmo que isso implique um maior sacrifício.
Daí a importância abordada neste debate de comunicar com os nossos pares como enfrentar esta batalha e manter as experiências enriquecedoras. Lorraine aborda também a dificuldade enquanto mulher de comunicar a sua dor aos médicos, pois sentia que esta era negligenciada.
Por outro lado, Leonardo conta os benefícios da tecnologia na sua vida e da acessibilidade dos locais, visto que, vindo de Itália, um país com cidades muito antigas, por vezes é difícil navegar dada a sua condição. Ambos terminam esta sessão comovente por abordar que as boas amizades se mantêm sempre por perto e que é possível viver no seu melhor, pois as experiências tornam-se ainda mais especiais.
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